Com quase 200 km², a Ilha Grande que dá nome à baia é uma das maiores do Brasil. Na costa que dá para o oceano, conhecida como Mar de Fora, as águas azuladas sempre agitadas reservam praias que entram fácil nas listas das melhores faixas de areia do Brasil, como Aventureiro, Parnaioca e Lopes Mendes. Sem opções de hospedagem, exceto campings improvisados, é a versão mais isolada da região. Já o Mar de Dentro, voltado para o continente, é completamente diferente, com quase cem praias de águas mais escuras e abrigadas. É ali que o visitante encontra pequenas enseadas e mar convidativo.
Por se tratar de pontos extremamente opostos, é fundamental planejar a viagem de acordo com os seus interesses. A Vila do Abraão é a sede da Ilha Grande, onde está a maioria das opções de hospedagem, além da concentração de comércio, como restaurantes e operadoras de turismo. É no cais da vila que chegam as embarcações de Angra dos Reis – sempre lotadas de turistas.
Mas o melhor fica do lado oposto do Abraão, em Araçatiba, a maior enseada de toda a Ilha Grande. Voltada para o continente, é abrigada e tem as opções de hospedagens mais rústicas. Se no passado aquele pedaço de terra foi o porto seguro do Ciclo do Ouro por sua posição estratégica, atualmente é partida de passeios que fazem a gente nem se lembrar da muvuca em volta do Abraão.
É ali que os viajantes praticam snorkel na Lagoa Verde (com piscinas naturais rodeadas por rochas), visitam a Praia Grande de Araçatiba, famosa por sua igrejinha na areia e fazem mergulho em costões rochosos da vizinha Araçatibinha, em meio a tartarugas.
Na Enseada do Sítio Forte, cujo pôr do sol entre serras costuma paralisar quem se hospeda por ali, montanhas abraçam praias minúsculas de águas mornas e sem ondas como a Passaterra.
Em seu vilarejo de apenas 50 moradores, Passaterra tem uma comunidade de descendentes japoneses que trabalharam na indústria pesqueira da região. Por ali não é raro se hospedar em pousadas que funcionam em antigos galpões da época, como a Maria Bonita, das famílias Hadama e Uehara. Em funcionamento desde 1990, é uma pousada simples, com 31 suítes e um restaurante pé na areia, com acesso direto para a praia, onde é possível praticar caiaque e stand up paddle (R$ 25/h). “Aqui o turismo é mais seletivo, não é fácil chegar”, conta a proprietária da pousada, Hatsuko Uehara Hadama, instalada no galpão da antiga Indústria de Pesca Bom Gosto.
Dali, passeios exclusivos seguem para a Lagoa Verde, praia de Lopes Mendes e a Ilha da Gipoia, onde fica a famosa Praia do Dentista (ou Jurubaíba para os mais tradicionais). O isolamento da região e a escassez de transporte direto do cais de Angra garantem uma circulação menor de visitantes e dose elevada de exclusividade nessa porção da baía.
E quanto mais distante, mais perto de experiências que parecem tiradas de livros de aventuras. Localizada ao lado da Enseada de Araçatiba, na Ponta do Acaiá, a Gruta do Acaiá é uma fenda estreita que segue até o nível do mar, onde uma lagoa interna ganha tons de néon devido à incidência da luz solar. É necessário andar de cócoras pela trilha até o anfiteatro que dá acesso a uma piscina natural com rochas sobrepostas, terminando no mar. É deslumbrante!
Onde se hospedar em Ilha Grande?
Maria Bonita
Pousada simples à beira-mar, na Praia de Passaterra. Oferece aluguel de stand up paddle, caiaque e equipamento de mergulho. Diárias a partir de R$ 330, com transfer de Angra, pensão completa e passeios.
Nautilus
Pousada bem equipada com chalés para até seis pessoas na Praia de Jaconema. Oferece passeios náuticos, saídas de mergulho, caiaque e trilhas. Diárias a partir de R$ 720, com transfer de Angra, refeições e passeios.
Naturália
Pousada em área tranquila da Praia do Abraão, com 12 suítes de frente para o mar e rodeadas de Mata Atlântica. Tem serviço de massagem e chá da tarde.
Trilhas e mergulho em Ilha Grande
A Ilha Grande é destino também de trilheiros que chegam a áreas isoladas, inacessíveis pelos barcos. São 16 trilhas oficiais ao longo de cem quilômetros que levam a praias e endereços históricos, a partir de localidades como Araçatiba, Bananal e Abraão. As opções vão de caminhadas leves, como a T4, que passa pela Lagoa Azul e a Igreja do Divino Espírito Santo, a trekkings puxados como a T8 (quase cinco quilômetros de caminhada íngreme, entre Enseada de Araçatiba e Praia de Provetá). Seja qual for seu nível de preparo físico, só não dá para evitar a trilha que vai da Praia do Pouso até a popular Lopes Mendes (T11). Em pouco mais de 30 minutos, é possível chegar a essa praia de quase três quilômetros de extensão, eleita uma das mais belas do mundo (mas que pode frustrar quem chega em dias nublados).
Mas é alguns metros abaixo da superfície que a Ilha Grande mostra uma versão ainda mais impactante de sua beleza. São ao menos 50 pontos de mergulho e 14 naufrágios mapeados e mergulháveis. Para quem é iniciante ou quer fazer um mergulho de batismo, o amigável Mar de Dentro é o melhor ponto, com áreas costeiras de menor profundidade e mais tranquilas. Já o lado de fora tem mergulhos profundos e mais correnteza. E para não perder nenhum deles, a ilha é destino do Enterprise, um catamarã com oito cabines e pensão completa. Esse liveaboard, como são chamados os barcos exclusivos para mergulhadores credenciados e acompanhantes, explora durante três dias pontos de mergulho nas regiões de Paraty e Ilha Grande. O Enterprise é daquelas embarcações com equipe que não se entrega fácil às dificuldades das operações mais complexas. Para garantir as melhores experiências, faz o que é preciso, como os mergulhos na complexa fenda da Ilha do Jorge Grego, onde não há ponto de ancoragem e o mar costuma ser mais agitado.
Trata-se de uma imensa rachadura em um paredão profundo e com a maior concentração de vida marinha de toda a ilha – pode-se mergulhar até o final dela e dali subir à superfície do interior daquela lança rochosa. A partir de então, caro leitor, cada um administra a emoção como puder. “Esse é o melhor ponto de mergulho de toda a Ilha Grande. E entre todas as costeiras e enseadas da Ilha do Jorge Grego, a fenda é o melhor”, define Tatiana Melo, instrutora da escola Captain Dive e guia em Ilha Grande há 18 anos.
CURIOSIDADE: Antiga prisão
Sabia que o turismo na Ilha Grande só começou a se desenvolver a partir de 1994, com o fechamento do Instituto Penal Cândido Mendes? As antigas estruturas resistem ao tempo e ao descuido, em endereços como o Lazareto, área antes usada para isolamento de pessoas com doenças infectocontagiosas, na Vila do Abraão, e o temido Cândido Mendes, em Dois Rios, que encarcerou presos políticos como Graciliano Ramos, Madame Satã e Fernando Gabeira.
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