O símbolo da Chapada das Mesas, no Maranhão, é uma fenda em forma de G num paredão de arenito. Chamado de Portal da Chapada, ele deixa ver uma enorme planície coberta pelos troncos retorcidos do cerrado, manchas verdes e amarronzadas por vezes floridas pelo amarelo dos ipês e o roxo das carnaúbas.

Os platôs avermelhados, as tais mesas, erguem-se como que do nada, e o mais fotogênico deles, o Morro do Chapéu, com 378 metros de altura, é o ponto mais alto da Chapada. No fim da tarde, ele fica perfeitamente enquadrado junto ao sol poente na fenda do Portal, enquanto a luz doura a paisagem. Bem-vindo à Chapada das Mesas, um rincão singular da natureza nacional na divisa do Maranhão com o Tocantins.

 

Como chegar na Chapada das Mesas

Apesar de ser menos falada no Sudeste em relação às suas colegas (Veadeiros, Guimarães, Diamantina), a Chapada das Mesas já tem um turismo estruturado (entenda atrativos como portaria, restaurante e passarelas de madeira para chegar às cachoeiras), frequentado por ônibus de excursões (!) vindos principalmente de Belém.

O acesso para quem vem de São Paulo ou Rio de Janeiro é difícil: o jeito mais em conta é tomar um voo com conexão em Brasília até a cidade de Imperatriz, no Maranhão, e ali, então, alugar um carro ou pedir um transfer para mais três horas de viagem até Carolina.

Rio Tocantins
Rio Tocantins (foto: shutterstock)

Essa é uma cidade de pouco mais de 20 mil habitantes entre as curvas suaves da BR-230, a famosa Transamazônica. Se prosear com os locais que curtem a sombra na porta das casas para tentar aliviar o calorão que impera na maior parte do ano, eles vão lhe contar que Carolina é a cidade do “já teve”: foi uma das primeiras do estado a contar com energia elétrica nos anos 1940, graças à construção da Usina Hidrelétrica do Itapecuruzinho. Também já foi uma pequena metrópole com aeroporto e cinema.

Entretanto, depois da criação da Rodovia Belém-Brasília, em 1959, ela perdeu importância. Hoje, a usina está inativa e o aeroporto só recebe fretamentos de pequenos aviões. Portanto, se alguém quiser ir ao cinema, vai ter que dirigir até Imperatriz. O pequeno Museu de Carolina, aberto em 2014, conta esse histórico curioso.

Poço azul
Poço Azul (foto: divulgação)

O que fazer na Chapada das Mesas

O que ela ainda tem é a sorte da Chapada das Mesas em seu quintal, que divide com os municípios próximos de Riachão e Estreito. O primeiro gostinho das belezas vem no complexo do Poço Azul, fruto de uma das 400 nascentes de água que brotam por lá.

Explicação geológica para o lugar: o fundo é de calcário, cujo desgaste libera magnésio e cálcio, que por sua vez decantam os sedimentos e tornam a água cristalina. Por fim, a incidência dos raios solares dá um tom verde-esmeralda e a faz brilhar. Explicação emocional sobre nadar nessa piscina: puro deleite.

E a melhor parte: na Chapada das Mesas, diferente da grande maioria das cachoeiras nacionais que gelam os ossos, a água é morna. Ou seja, esse poço límpido tem temperatura agradável, que não dá vontade de sair nunca. Se eventualmente o fizer, caminhe alguns metros para ver a Cachoeira de Santa Bárbara, uma bela queda de 76 metros.

Encanto azul
Encanto azul (foto: divulgação)

 

Encanto Azul e Cachoeira do Santuário

Uma estrada de 6 km pela areia fofa, partindo do Poço, leva até o Encanto Azul, outra nascente de água que gera uma piscina natural. Mergulhando com máscara, você consegue enxergar até sete metros de profundidade e se sentir imerso num aquário, flutuando ao sabor das leves ondulações. Na volta, pare para um almocinho rápido no complexo: tucunaré ou tambaqui fritos sempre vão bem.

Além disso, uma das atrações mais antigas da Chapada é a Cachoeira do Santuário, visitada há mais de 80 anos. Ela faz parte, hoje, do complexo Pedra Caída, que inclui um hotel e um restaurante a quilo feiosos, meio em desarmonia com a boniteza das atrações dispostas ali. Entretanto, abstraia a impressão inicial para se encantar com as cachoeiras da Caverna e do Capelão, ambas entre belas formações rochosas e poços para banho.

Então, tome o rumo do Santuário por passarelas de madeira dispostas para que as pisadas não prejudiquem a vegetação. Depois de atravessar uma ponte suspensa, o caminho vai passando por pequenas cascatas e vai por dentro de um cânion.

A água bate primeiro no joelho, depois na cintura, o som de uma queda forte vai aumentando, as curvas dos paredões rochosos que não deixam ver o que vem à frente criam um clima de suspense. A cachoeira de 46 metros despenca de uma fenda na rocha que recebe a luz das 11h às 14h, o melhor período para visitar, quando os raios lhe dão uma vibe onírica. Uma pena as pichações constantes nas rochas ao redor, dos tempos em que a visitação não era controlada.

Parque Nacional da Chapada das mesas
Parque Nacional da Chapada das Mesas (foto: divulgação)

 

Por dentro do Parque Nacional da Chapada das Mesas

A criação do Parque Nacional da Chapada das Mesas, que protege 160 mil hectares, é recente, de 2005. Tem sido efetuado um plano para mover e indenizar fazendeiros que ainda mantêm 5 mil cabeças de gado naquele território.

Vivem ali também cerca de 130 famílias isoladas do mundo, algumas no alto das “serras”, como os locais chamam as mesas. Um projeto em andamento na região é realizar um trekking que cruze o parque passando pelas casas dos sertanejos.

Cachoeira da Prata
Cachoeira da Prata (foto: divulgação)

Seu Deusivan Carneiro é um deles, um sujeito sorridente, com não mais que 1,60 metro, que oferece café e bolachas a quem chega para visitar a Cachoeira do Prata, que ele guarda a poucos metros de sua casa.

Ele gera energia elétrica numa roda d’água, assiste à TV graças a uma parabólica e planta arroz, feijão e mandioca numa pequena roça. Ali não tem sinal de celular e wi-fi passa longe. Apenas vai a Carolina uma vez por semana, a 70 km de distância por uma estrada de terra onde só passa carro 4×4.

A bela Cachoeira do Prata, por sua vez, se forma graças a um desnível do Rio Farinha, e suas rochas escuras denunciam um movimento vulcânico em algum lugar no passado da Chapada. Enquanto duas quedas chacoalham a água, você pode curtir um mergulho no rio, onde dá para nadar até uma pequena ilha e ver as cachoeiras mais de perto. De novo, a bênção da água morna.

 

Cachoeira de São Romão

A outra atração de peso dentro do território do parque nacional é a Cachoeira de São Romão, uma cortina espessa de 36 metros de largura, a maior em volume de água do Maranhão. Alugue um caiaque ali para remar até perto dela.

Depois, siga uma trilha curta que leva até a experiência surreal de se pôr de pé nas pedras embaixo da queda, onde você se sente pequenininho. Diferente das atrações fora do parque, aqui, devido à exigência de guia e necessidade de um veículo apropriado, tem pouquíssima gente à vista.

 

O que fazer em Carolina

Se as ruelas de Carolina não têm charme, esbanjam simpatia interiorana: casinhas coloridas, parapeitos floridos, pracinhas arborizadas, a pequena Igreja São Pedro de Alcântara, de 1844. Os restaurantes, por sua vez, são simples, mas preparam muito bem o arroz de Maria Isabel (feito com carne seca), como o Mocotozin.

Além disso, uma casinha azul-anil vende os doces caseiros da Dona Elza (o de caju é maravilhoso), que conta como eles já apareceram no programa da Ana Maria Braga.

Restaurante Mocotozin
Restaurante Mocotozin (foto: divulgação)

Enquanto isso, no mercado central, você pode comprar uma garrafa de óleo de coco-babaçu, extraído na região. De noite, o pessoal se reúne ao redor da Praça Alcides de Carvalho, toma umas e ouve música ao vivo.

 

Hospedagem charmosa

A pousadinha mais charmosa é a dos Candeeiros, que tem móveis de antiquário, piscina, quartos com ar-condicionado e comidas típicas no café da manhã, como, por exemplo, o bolinho de arroz chamado orelha de macaco (pegue um punhado para levar durante o dia).

Quem toma conta da pousada é Cinthia Ayres, cuja família está na área desde 1849. Também proprietária da agência Torre da Lua, a principal da região, junto com o marido, Cinthia organiza passeios dentro do Refúgio Ecológico Serra Torre da Lua, que era de seu tataravô.

Lá estão trilhas que correm cerrado adentro até o topo das serras, de onde as mesas ficam ainda mais evidentes: as montanhas se enfileiram na paisagem com seu cume chapado traçando um bonito desenho no horizonte. A mais curta é a do Tributo, de 10 km, ida e volta.

Pequizeiros e bacurizeiros e o voar das jandaias-verdadeiras, primas da arara, com corpo amarelo e asas verdes, acompanham o caminho. No fim, um mergulho no riacho relaxa o corpo (eu já mencionei que a água é morna?) e na sede é servido um almoço com galinha caipira para recobrar a energia, seguido de um cochilo em redes penduradas debaixo de uma mangueira.

Jandaia-verdadeira
Jandaia-verdadeira (foto: shutterstock)

Volta-se a Carolina com um final sublime para o dia: um passeio de barco pelas águas plácidas do Rio Tocantins, que espelha a vegetação e as serras da margem, enquanto o pôr do sol pinta o céu.

Quando desembarcar no porto, já fique direto no Chega Mais, um restaurante cujas mesas ao ar livre deixam sentir a brisa do rio. Vá de macaxeira frita e moqueca maranhense que não tem erro.

 

Jalapada: Chapada das Mesas + Japalão

Se tiver tempo, um ótimo bem-bolado é fazer a viagem à Chapada das Mesas junto com o Jalapão, no Tocantins, coisa que na região chama-se de “Jalapada”. É, portanto, um combo bacana para explorar bem essa região do Brasil e ter fartura de cachoeiras, piscinas naturais verde-esmeralda, chapadões e dunas alaranjadas entre as vegetações do cerrado, campos gerais, de caatinga e pré-Amazônia.

Sendo assim, a ideia é voar até Palmas, passar pelo menos quatro dias no Japalão (veja com a Korubo Expedições, a principal empresa que opera no destino) e depois tomar um voo ou ônibus até Araguaína (a 110 km de Carolina) para curtir a Chapada das Mesas mais uns quatro dias.

 

Onde se hospedar na Chapada das Mesas?

 

Pousada dos Candeeiros

Melhor opção em Carolina, fica numa casa antiga com móveis de antiquário e quartos simples.

Pousada do Lajes

A 2 km do centrinho de Carolina, tem chalés simples dispostos num jardim florido com piscina e playground.

 

 

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