A BR-101 fica pra trás, e então a estrada de chão serpenteia ao longo do rio até uma baía de águas mansas e cristalinas, com algumas poucas casas de pescador, outras de veraneio, e a Igreja Nossa Senhora da Conceição, erguida em 1700. Estamos em Paraty-Mirim, uma vila a 20 minutos de Paraty e a poucas braçadas de mar do Saco do Mamanguá, apelidado de “fiorde tropical”.

Aqui, ao contrário da vizinha Paraty, tudo é calmaria. A floresta cobre as montanhas até onde o olhar alcança, formando a Área de Proteção Ambiental (APA) do Cairuçu, onde fica também uma das aldeias guarani-mbya. Os índios têm suas terras demarcadas aqui desde 1996, e a presença da tribo ajuda na preservação da natureza local. É verde que não acaba mais, e muito mar azul.

Paraty-Mirim e seu litoral paradisíaco

Ao todo, há nessa região mais de 300 praias e 60 ilhas. E é esse o lugar que escolhemos para a nossa primeira viagem desde que a pandemia se instaurou. A escolha não podia ter sido mais incrível. Afinal, trata-se de um roteiro por um litoral paradisíaco, com cachoeiras, trilhas e muita natureza. Nossa base foi uma casa em vez de hotel, para evitar contato com outros hóspedes. A Casa de Vidro fica em uma encosta debruçada sobre a baía, tem paredes de pedra e madeira e gigantescos janelões de vidro no lugar da argamassa. Do lado de fora, deques com espreguiçadeiras e casulos se debruçam sobre o mar, rodeados por um jardim de palmeiras. Uma piscina de vista infinita completa o cenário.

Para chegar à casa, é preciso andar por uma trilha ou pegar uma pequena embarcação no cais de Paraty-Mirim. De barco é mais divertido, e é sempre Seu Celinho que busca a gente. Ele é nativo, vive do mar e trabalha como caseiro. Coisa rara nos tempos de hoje, aliás, onde o turismo desembarca com o progresso em quase todos os lugares e muda um pouco a feição das coisas.

Pergunto a ele se vai chover. Tinha visto pelas previsões que o tempo ia fechar, mas ele nem liga pra isso. Responde que depende do vento. “Se vier da terra, é chuva. Se vier do mar, vai fazer sol”, diz, olhando pra cima. “Deve fazer sol.” E fez. Os dias seguintes foram no balanço dessa sabedoria.

Casa de Vidro
Casa de Vidro (foto: Gabriela Temer)

Como chegar em Paraty-Mirim

Paraty-Mirim fica a 20 minutos de carro de Paraty e a cerca de 4h30 de distância do Rio de Janeiro ou de São Paulo. O caminho é pela Rio-Santos, até chegar na entrada de Paraty-Mirim. Em seguida, é preciso pegar uma estrada de terra de 15 minutos. Por São Paulo, o caminho mais indicado é pela BR-116 e BR-459 ou pela Governador Carvalho Pinto e então a BR-383.

 

Quando ir a Paraty-Mirim

De dezembro a janeiro faz bastante calor e pode ter pancadas de chuva. Nos meses de julho e na primavera, o céu fica limpo de dia, à noite esfria, e a região fica mais vazia. No outono, chove regularmente.

 

Quanto tempo ficar

Reserve, pelo menos, cinco dia dias. O primeiro dia pode ser para aproveitar a casa (que por si só já vale a viagem), o segundo para conhecer as cachoeiras, o terceiro para o passeio de barco, o quarto para o Saco do Mamanguá, e o quinto para, enfim, relaxar mais um pouco na casa e fazer o check-out.

 

Onde se hospedar

A Casa de Vidro, em Paraty-Mirim, tem diárias a partir de R$ 1.700, variando de acordo com período do ano. Na casa, cabem até dez pessoas. O barco que leva até lá custa R$ 30 (o valor é cobrado por trajeto, e não por pessoa), e o transfer é organizado pela hospedagem. O contato é pelo instagram.com/acasadevidroparaty.

 

Passeio privativo de barco em Paraty e Mamanguá

A agência Palombeta Boat tem traineiras (a partir de R$ 800 o barco) e lanchas (a partir de R$ 1.000). Os valores variam de acordo com o período do ano. instagram.com/palombetaboat

 

Passeio privativo para as cachoeiras

Com a Paraty Tours, os carros são Land Rovers abertas, higienizadas antes e depois de cada passeio. O valor do tour privativo é R$ 800 por carro e cabem até 8 pessoas. Já o roteiro regular custa R$ 100 por passageiro. instagram.com/paratytours.agencia

 

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Os tesouros do fiorde

Com sol, fizemos o passeio de barco privativo pelas ilhas de praias de Paraty. O roteiro inclui locais como a Praia de Jurumurim, por exemplo, que em tupi-guarani quer dizer “boca pequena”. E é assim mesmo, uma pequena enseada acessível apenas pelo mar, cercada de floresta nativa e água tão parada que reflete as nuvens. Depois dela, o passeio prossegue por uma lista de outras praias idílicas: Ilha dos Cocos, com um mar esmeralda caribenho, Ilha do Algodão e Ilha Comprida, até que a tarde finda e é hora de voltar.

Algumas dessas praias recebem escunas também, vindas de Paraty e bastante cheias para o atual momento. Para fugir da muvucada, a alternativa é zarpar antes dos passeios coletivos, que começam por volta de 11h. Há também o passeio para o Saco do Mamanguá, em Paraty-Mirim, onde um abraço de mar invade o continente e rasga as montanhas desenhando uma espécie de fiorde tropical, com dezenas de microenseadas, cachoeiras, mangues, rios de águas límpidas e trilhas pela floresta.

Um lugar onde, apesar de toda a beleza, o turismo não pegou forte e as vilas caiçaras se mantiveram. Mesmo com a chegada da luz há um punhado de anos, pouca coisa mudou. Por isso, Wi-Fi é quase inexistente, 3G não pega, e a comunidade bate firme quando vê desmatamento.

 

Passeios imperdíveis!

Lá não deixe de conhecer o Saco da Velha, praia que fica na entrada do fiorde, com mar calmo, vegetação abundante e uma gruta. Depois, tem a Praia do Buraco, que eu apelidei de Seychelles fluminense, por conta do tom azul das águas e das grandes pedras redondas polidas pela erosão, em semelhança àquele arquipélago do Oceano Índico. A partir daí, é uma sucessão de prainhas num horizonte de montanhas. A mais altas delas é o Pico do Pão de Açúcar, alcançado em um trilha de duas horas.

Aliás, o que não falta no Mamanguá são trilhas. O destino é meca do trekking, e algumas delas levam a belas cachoeiras, como a do Rio Grande. Para chegar lá, é preciso ir de barco até onde o braço de mar encontra com o mangue, depois remar 20 minutos de caiaque e seguir mais 20 de caminhada. É o pote atrás do arco-íris. Por fim, almoce no restaurante do Dadico, pescador nativo. O menu é o que ele pesca no dia e pode ser ostras ou os camarões GGG que existem pelo Mamanguá.

Saco da Velha
Saco da velha (foto: Gabriela Temer)

Da água doce para a salgada

Essa é uma região oceânica cercada de áreas de proteção de floresta, entre elas a reserva do Cairu, de Paraty-Mirim e o Parque Nacional da Serra da Bocaina. A quantidade de água doce que corre por essa mata não é brincadeira e pode ser vista em um circuito concorrido com dezenas de rios, poços e quedas d’água, alguns com acesso facílimo e outros nem tanto.

Para driblar a bagunça, escolha o passeio privativo, e chegue às 8h (as vans de passeio desembarcam grupos enormes na cachoeiras a partir das 11h). Comece pela Cachoeira da Pedra Branca, com dois lagos enormes cor de Coca-Cola e duas quedas d’água. Só ela já vale uma manhã toda. Em seguida, rume para a Cachoeira das Sete Quedas, que não está na rota das agências e é maravilhosa. De novo, dois lagos e várias quedas d’água. Além disso, você pode ainda ir até Cachoeira da Jamaica, que também fica fora do circuito turístico e é muito linda.

Por fim, termine seu dia na Cachoeira do Tobogã, essa sim bem cheia a qualquer hora, mas divertida: um enorme escorrega natural formado de pedra e com água corrente completa nossa viagem por uma região cheia de riquezas naturais.

 

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