Apenas 40 minutos de trem separam Innsbruck da estação ferroviária central de Ötztal. Ou seja, não há desculpa para você deixar de fora de seu roteiro o mais badalado recanto alpino de toda a Áustria.

Ötztal é um vale com 65 quilômetros de extensão, ao longo do qual se espalham cinco cidadezinhas. Dá para explorá-las usando o transporte público, mas eu preferi apelar para o automóvel. E recomendo, porque assim foi possível parar diversas vezes, onde eu bem quisesse, para apreciar e fotografar os dramáticos cenários das montanhas nevadas se debruçando sobre a tortuosa estradinha que cruza o vale, batizada de Ötztal Strasse.

Todos os anos, mais de 2 milhões de esquiadores, alpinistas, curiosos e estressados em busca de paz visitam esse refúgio montanhoso. Isso faz dele o terceiro maior destino turístico do país, atrás apenas de Viena e Salzburgo.

No meu caso, a estadia foi na localidade mais agitada: a vila de Sölden, com 4 mil habitantes e o quádruplo disso de turistas diariamente. Ela tem nada menos que 144 quilômetros de pistas de esqui para iniciantes e iniciados. É a única área de esportes de neve da Áustria com três picos acima de 3 mil metros de altitude.

Ötzi

Mas estou me adiantando… É preciso mencionar que, no caminho para lá, passei por outros diversos vilarejos pitorescos, como Umhausen, onde fica uma atração mundialmente famosa: a Vila de Ötzi. O nome talvez não lhe faça muito sentido, mas se você acompanha o noticiário internacional, já deve ter ouvido falar da múmia de 5 mil anos de idade achada sem querer por um casal de alpinistas na fronteira da Áustria com a Itália, em 1991. Prazer, esse é o Ötzi!

O fóssil humano com mais de 5.300 anos foi batizado em referência exatamente a essa região (Ötztal, em alemão). Na verdade, a múmia está em um museu do lado italiano do Tirol (sim, essa região tem sua porção no país vizinho). Aqui no lado austríaco, contudo, fica esse museu a céu aberto – o melhor lugar para entender a história do homem alpino pré-histórico.

A Vila de Ötzi revela como ele vivia e as facetas mais surpreendentes dos nossos antepassados. A visita guiada dura uma hora e meia e custa € 10. Mas fique atento: por estar ao ar livre, essa atração não funciona no inverno, quando a neve cobre absolutamente tudo.

Vila em Otztal
Vila de Ötzi (foto: Ötztal Tourismus)

Além do esqui

Aliás, justamente para seduzir visitantes fora da temporada de esqui, não faltam atrativos sazonais, abertos apenas nos meses “quentes”. Um deles é o Top Mountain Motorcycle Museum, no vilarejo de Hochgurgl, a 2.100 metros de altitude. Ele exibe mais de 270 motocicletas clássicas de cem marcas diferentes, além de 30 carros antigos muito raros. O ingresso custa € 15.

Uma dica para explorar essas e outras atrações – como os 12 teleféricos abertos o ano todo – é adquirir o ÖtztalCard, que dá acesso a todo o transporte público, assim como a gôndolas, museus e passeios. O bilhete de três dias custa € 62, enquanto o de sete dias sai por € 84. Mas fique esperto, porque eles não valem para a temporada de neve, quando ocorrem outros tipos de promoção.

Cansado da viagem e desse primeiro contato intenso com tudo o que o vale oferece, achei conveniente relaxar no hotel. Hospedei-me no Das Central, um daqueles resorts de montanha que dão vontade de não sair mais.

 

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Resort

Logo ao chegar ao quarto, a primeira surpresa: um tablet com todas as informações possíveis e imagináveis que você possa precisar sobre o hotel, a cidade, o vale… Mais que isso, o suite pad permite reservar passeios, marcar hora no spa, fazer pedidos à cozinha, tirar dúvidas com o staff do hotel e telefonar para fora. Tecnologia de primeiríssima.

Não bastasse o quarto amplo e cheio de recursos (até mochila eles emprestam), o hotel tem um spa enorme, com mais de 15 ambientes, muito bem decorado, na medida para quem quer relaxar. A tecnologia nesse spa é igualmente admirável: projeções nas paredes mostram cenas de Veneza, como se você estivesse de frente para a famosa cidade italiana.

Fui com tanta sede ao pote que cometi uma gafe: parte da área de repouso é nude only, ou seja, para uso totalmente sem roupas, por questões culturais e higiênicas. E o brasileirão aqui de bermuda florida na hidromassagem, estranhando aquele monte de gente pelada…

Importante: ninguém me incomodou por estar “vestido”. Mas quando eu saí da hidro para ir a uma das diversas saunas, aí sim um funcionário me alertou das regras, de forma muito polida e gentil. Morrendo de vergonha, fui ler as normas e percebi que existe também uma área para gente que não gosta de ficar nu. Ou seja, tem lugar para todo mundo!

O Hotel Das Central oferece ainda dois restaurantes de alta gastronomia (premiados pelo guia francês Gault & Millau), um bar animado, adega com mais de 30 mil garrafas de vinho, transfer para as pistas de esqui e muito mais, com diárias a partir de € 360. Explorei boa parte disso e dormi o sono dos justos (e satisfeitos).

Resort em Ötztal
Hotel Das Central (foto: divulgação)

007

O amanhecer nos Alpes é para ser apreciado com calma e, bem cedo, eu já estava de pé. O dia começou com uma aventura rumo à exposição 007 The Elements – uma retrospectiva dos filmes do agente secreto James Bond, realizada em um cenário incrivelmente único: o cume da montanha Gaislachkogel, mais de 3 mil metros acima do nível do mar.

Há um bom motivo para ter um museu supertecnológico sobre o mais famoso espião do cinema no alto desse pico nevado. É que ali foram gravadas muitas cenas de 007 Contra Spectre, filme de 2015 em que o ator Daniel Craig faz o diabo para vencer vilões nas encostas alpinas.

Por € 54, você tem acesso à gôndola que leva aos 3.040 metros de altitude do prédio da exposição, com suas nove galerias high tech repletas de projetores, vídeos e traquitanas que só os roteiristas de cinema poderiam imaginar. Sequências cheias de ação, carros que voam de penhascos, tiros, quedas, aviões dando rasantes, lutas… Tem de tudo. Sem falar nos simuladores no estilo videogame, que fazem você se sentir na pele de James Bond, e, claro, na caprichada loja de suvenires relacionados ao filme.

Bem ao lado, também no alto da montanha, fica o restaurante Ice Q, que aparece no filme com bastante destaque. Eu não poderia sair dali sem almoçar no melhor estilo “agente secreto”, nesse que é uma obra-prima da arquitetura europeia, assim como um dos mais elogiados bistrôs dos Alpes. Tomei uma mesa com vista panorâmica, pedi o menu de três pratos e degustei um vinho branco contemplando a vista panorâmica do Vale de Ötztal.

Exposição no cume da montanha Gaislachkogel
Exposição 007 The Elements (foto: divulgação)

Águas termais

Muitas fotos e taças de vinho depois, desci a montanha para minha derradeira parada em Ötztal: as piscinas termais do Aqua Dome. Esse hotel-spa fica na cidadezinha de Längenfeld, 14 quilômetros ao norte de Sölden, e é considerado um ícone do bem-estar nos Alpes Austríacos.

Mesmo se você não estiver hospedado, pode frequentar a maior parte da estrutura oferecida, pagando à parte. O ingresso válido por um dia, com acesso ilimitado a piscinas, saunas e academia, sai por € 54, mas há opções mais em conta para quem quiser ficar menos tempo ou usar apenas as piscinas.

E que piscinas! São 12 ao todo. Internas, externas, aquecidas, naturais, grandes, pequenas… Tem para todo gosto. Eu, particularmente, achei fantástico o circuito aquático que começa no interior do hotel e se espalha para o lado externo, no meio da neve. Enquanto os termômetros apontavam congelantes 2 °C na atmosfera, a água a 34 °C afagava os visitantes. Somadas às sete saunas e aos quatro bares e restaurantes, a piscinas do Aqua Dome talvez sejam o melhor contraponto a um dia de esquina neve com muita adrenalina.

Eu realmente recomendo terminar sua jornada pela República da Áustria imerso em suas tépidas águas, com o visual dos cumes nevados ao alcance dos olhos. Se tem sensação melhor que essa em alguma viagem, eu desconheço.

Hotel-spa em Längenfeld
Aqua Dome (foto: Paulo D’Amaro)
Viagem com apoio do Centro de Turismo da Áustria e Air France.

 

MOEDA: Euro (€). € 1 = R$ 5,88

FUSO: +4h

CAMINHO CERTO: Não há voos diretos do Brasil para a Áustria. Nesta viagem contamos com o apoio da AirFrance, que voa de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Fortaleza para Paris. A conexão na capital francesa é rápida; de lá até Viena são duas horas (leia mais sobre a companhia na seção Viajar no Ar). Outras empresas voam também com conexão em cidades europeias, como KLM, Iberia, Latam, Alitalia, British, TAP e Lufthansa, por exemplo.

 

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