Logo no meu primeiro mergulho nas águas de Abrolhos, já me surpreendi com a abundância de vida marinha. Usando só snorkel, deparei-me imediatamente com três arraias-pintadas, lindas, nadando bem próximas da superfície. Badejos e tartarugas – no mínimo – também seriam companhias constantes em todos os mergulhos dos quatro dias que eu ainda tinha pela frente.
Localizado a 70 km da costa sul da Bahia, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos é um tesouro raro, abrigando uma das maiores biodiversidades do Brasil em cinco ilhas. Calcula-se que suas águas, que protegem uma grande parcela do maior banco de corais do Atlântico Sul, sejam habitadas por cerca de 1.300 espécies animais, sendo 45 ameaçadas de extinção – vide a rara tartaruga-de-couro, maior do mundo. É também um importante berçário de baleias jubartes, que, de junho a setembro, vêm até aqui para se reproduzir. Não à toa, até Charles Darwin se maravilhou com suas pesquisas por essas bandas.
A jornada para conhecer Abrolhos é longa e cansativa – é justamente o acesso difícil que garante a conservação de tamanha riqueza. Por isso mesmo, passeios bate-volta podem não valer tanto a pena, já que a navegação entre o continente e o arquipélago leva de quatro a cinco horas, saindo da cidade baiana de Caravelas. O mais indicado, portanto, são os roteiros de dois a quatro dias em um liveaboard, tipo de barco dotado de toda a estrutura necessária para que os visitantes possam dormir a bordo. Além de proporcionar mais tempo para explorar a região, a experiência permite assistir ao nascer e ao pôr do sol no meio do mar.
Prepare sua viagem
Como chegar: O ponto de embarque para Abrolhos é na cidade de Caravelas, localizada a 259 km de Porto Seguro, onde se encontra o aeroporto mais próximo e que recebe voos de diversas cidades brasileiras. O trajeto de cinco horas entre Porto Seguro e Caravelas pode ser feito de carro alugado, transfer contratado ou ainda de ônibus intermunicipal, que leva seis horas, sendo necessária uma baldeação em Alcobaça. Recomenda-se chegar a Caravelas um dia antes do embarque.
Quem leva: Os preços dos liveaboards variam de acordo com o número de noites, o tipo de embarcação e se o viajante é mergulhador ou não. Com a Apecatu Expedições, o liveaboard de três noites no barco Zeus custa R$ 2.500 para não mergulhadores ou R$ 3.500 para mergulhadores, já com todas as refeições incluídas. Uma noite sai por R$ 1.700 (sem mergulho) ou R$ 2.200 (mergulhadores), enquanto o de duas noites fica R$ 2.100 (sem mergulho) ou R$ 2.800 (mergulhadores). Os preços para o catamarã Netuno são, em média, R$ 200 a menos. Também é preciso pagar a taxa de conservação ambiental do parque, que é de R$ 52 por dia. apecatuexpedicoes.com.br
Internet e celular: Devido à distância da costa, em Abrolhos não existe sinal, a não ser em algumas exceções. Quem acorda para ver o sol nascer, por exemplo, talvez consiga um pouco do sinal de Wi-Fi que vem da base da Marinha para enviar mensagens e até mesmo usar as redes sociais.
Mergulho em Abrolhos
Dentre as empresas que oferecem o programa, a Apecatu Expedições dispõe dos catamarãs Zeus e Netuno. Fiquei três noites a bordo do primeiro, o maior. Fui bem atendido pela tripulação, que, além dos instrutores de mergulho, é formada por mestre, marinheiro e cozinheira. Pois, sim, a comida é feita na hora, no barco. Durante o dia, tem quatro refeições, com cardápios diferentes e ingredientes frescos. No caso de intolerância alimentar, basta avisar no início da viagem.
O Zeus comporta 12 pessoas em cinco cabines, sendo duas suítes – pequenas, mas bastante confortáveis. Duas escotilhas em cada acomodação servem de janela, garantindo a circulação de ar. Quem não tem suíte usa os banheiros comunitários. Eles são pequenos, com um espaço apertado entre o vaso e a pia para tomar banho com ducha higiênica. Por isso, a maioria dos viajantes adere ao chuveiro de água doce na popa do barco. Mas sem xampu nem sabonete, para evitar contaminação do mar.
Ao fim de um dia mergulhando, a alma já estará tão lavada que tirar o sal do corpo com uma chuveirada será mais que suficiente! Ah, o racionamento de água é regra, já que os tanques não podem ser reabastecidos na viagem.
Nosso catamarã Zeus saiu cedinho de Caravelas, antes das 8h, para chegar a Abrolhos no almoço. Empolgado demais para esperar, pulei a refeição para cair no mar, só com snorkel, máscara e nadadeiras. Foi quando encontrei três arraias pertinho da superfície. São muitas as surpresas nas águas de Abrolhos, afinal. O peixe bodião-azul, por exemplo, é um “jardineiro” de corais, que pode ser visto de dia, no raso; já nos mergulhos noturnos, podemos ver vários escondidos em suas bolhas de muco, que os protegem dos predadores. Além deles, Abrolhos fervilha com arraias, moreias, grandes cardumes e tartarugas, especialmente na Ilha Siriba.
Certificado de mergulho
E não é preciso ter certificação de mergulho para aproveitar boa parte disso tudo. Existem vários pontos de mergulho, proporcionando experiências diferentes para qualquer passageiro. Mesmo quem fica só de snorkel em determinadas áreas rasas – onde é possível nadar sozinho sem perigo –, consegue ver muita vida marinha. Iniciantes podem se aventurar em mergulhos de batismo com a companhia do instrutor ou até mesmo fazer o curso com credenciamento internacional, do básico ao avançado, durante os dias a bordo.
Os mergulhos para aqueles que já são credenciados acontecem com dois instrutores – Noel e Lula –, que vão guiando o grupo o tempo inteiro, em naufrágios a 25m de profundidade e nos chapeirões, que são colunas de corais milenares em forma de cogumelos, com mais de 20m de altura. Boa oportunidade paraver a espécie de coral-cérebro que é exclusiva de Abrolhos. Caiaque e stand-up paddle são outras atividades para variar um pouco a programação.
Durante os dias a bordo, acontecem ainda dois desembarques em terra firme. Na primeira parada, na Ilha Santa Bárbara, é realizada uma visita guiada pela base da Marinha do Brasil e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela manutenção do parque marinho. Ali fica o Farol de Abrolhos, de 1861, que pode ser conhecido por dentro. A segunda descida é na Ilha Siriba, habitada por muitas aves, residentes ou migratórias, que por ali fazem ninhos ou pousam temporariamente, como grazinas-do-bico vermelho, atobás brancos e marrons, fragatas e beneditos. Em Abrolhos, afinal, a vida pulsa do mar ao céu.
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