O primeiro bonjour que ouvi em Montreal já me fez abrir um sorriso e me sentir bem-vinda. O jeito cordial e gentil dos montrealenses fez com que me sentisse em casa, mesmo sem falar a língua. Na cidade canadense, os habitantes são mesmo bilíngues (falam inglês e francês) e não se importam em trocar de idioma ou até arriscar gestos com as mãos para se comunicarem com os turistas.

Isso porque Montreal sempre foi motivo de disputa entre França e Inglaterra. Começou com o francês Jacques Cartier, que descobriu as terras da província de Quebec em 1535. A fundação da cidade só aconteceu em 1642. Com o Tratado de Paris no século 18, o controle da região foi concedido aos britânicos, o que fez com que não só ingleses, mas também escoceses e irlandeses se mudassem para lá.

A população francesa nunca aceitou muito bem o domínio inglês e sempre fez questão de preservar a cultura francófona e reivindicar seus direitos. Entre as décadas de 1950 e 1970, houve um forte movimento nacionalista dos quebequenses, que protestaram contra uma lei que obrigaria o uso do inglês como idioma oficial. Eles conseguiram impedir e fizeram história: em 1976, Quebec tornou-se, oficialmente, uma província francesa.

Até hoje, ambas as culturas continuam presentes e até misturadas em Montreal, seja na arquitetura, nas artes, na gastronomia e nos diálogos em que se ouvem palavras inglesas no meio de uma frase francesa e vice-versa.

O nome Montreal é uma menção a uma de suas atrações naturais, o Mont Royal. A 234 metros de altura, o monte localiza-se em um parque lindo, cujos mirantes oferecem uma vista privilegiada da cidade. Foi inaugurado em 1876, após ter sido arborizado e redecorado pelo paisagista Frederick Law Olmsted, o mesmo que projetou o Central Park, em Nova York.

 

Mont-Royal
Mont-Royal (foto: shutterstock)

 

Esse foi um dos lugares mais bonitos que visitei, onde tive o privilégio de observar as árvores de folhas vermelhas, laranjas e amarelas exibindo o esplendor do outono. Em um dos flancos do monte fica o Oratoire Saint-Joseph – a maior igreja católica do Canadá. O templo começou a ser construído em 1924 e só ficou pronto 43 anos depois, em 1967. Atrai cerca de 2 milhões de devotos todos os anos. Muitos sobem de joelhos os 99 degraus da escada que leva até a porta principal. Este é o maior santuário do mundo dedicado ao pai terreno de Jesus, José.

No passeio, até me esqueci do vento congelante – até porque me lembravam a todo o momento que 2 ºC não era motivo de sofrimento, afinal o inverno por lá chega a marcar -20 ºC no minimo.

As temperaturas baixas não chegam a ser um problema, já que Montreal possui a maior cidade subterrânea do mundo, com 33 quilômetros de extensão e interligada com as estações do metrô e os principais edifícios. Dá para fugir do frio tranquilamente, almoçar, tomar um café, ver uma exposição sem passar aperto. E não pense que há um clima de clausura, em várias áreas o teto é envidraçado, o que permite a entrada de luz natural.

 

Skyline da cidade
Skyline da cidade (foto: divulgação)

 

Uma das principais atrações culturais da cidade, o Musée des Beaux-Arts (ou Museum of Fine Arts) também pode skyline da cidade ser explorado por baixo da terra. O complexo possui cinco pavilhões (o último foi aberto no final de 2016), que são conectados entre si pelo andar subterrâneo. Com o novo edifício, o espaço agora conta com uma área de quase 5 mil m², que abriga mais de 41 mil obras de arte de diferentes períodos, estilos e países. Há desde telas clássicas e religiosas até esculturas modernas e provocativas.

 

Onde comer em Montreal

 

É curioso saber que Montreal é a terra do poutine, prato típico quebequense. Há muitas casas especializadas na iguaria e várias apostam em versões pouco convencionais. Mas para não errar, fique com o clássico: batata frita, queijo derretido e molho de carne. É uma bomba calórica, mas uma pedida irresistível para uma noite fria.

East Pan-Asian Cuisine & Bar
East Pan-Asian Cuisine & Bar (foto: divulgação)

Para explorar as riquezas gastronômicas locais, nada melhor do que conhecer seus mercados. Em Montreal, há dois essenciais: o Atwater e o Jean-Talon. O primeiro fica instalado em um prédio art déco de 1933, e o segundo está no centro do bairro italiano – depois de sentir os aromas das frutas e verduras, aproveite para matar a fome em alguma pizzaria tradicional do bairro.

Tente programar um domingo em seu roteiro para tomar um brunch por lá. O restaurante Le Renoir, do hotel Sofitel Montreal, oferece um verdadeiro banquete aos domingos, com direito a macarons e crème brulée no bufê, que pode ser saboreado por quem não é hóspede também. Mais da culinária francesa está no recomendadíssimo Maison Boulud, do histórico hotel Ritz-Carlton.

Se você é fã da gastronomia asiática, a dica é jantar no East Pan-Asian Cuisine & Bar, do Hotel Renaissance, que mistura culinárias japonesa, chinesa, tailandesa e coreana. O garçom traz um mix do cardápio em pequenas porções para todos na mesa provarem. O hotel não surpreende só em seu restaurante, mas empolga também com decoração moderna, paredes grafitadas, mobília vintage e um ambiente bastante colorido e descontraído.

 

East Pan-Asian Cuisine & Bar
East Pan-Asian Cuisine & Bar (foto: divulgação)

 

No quarteirão de trás está a Rue Sainte-Catherine, principal local para compras. Os turistas podem percorrê-la de cabo a rabo e encontrarão de tudo um pouco, desde marcas mais acessíveis, como Forever 21, até as grifes mais badaladas. A via corta boa parte da cidade, passando por bairros mais boêmios também, como o Le Village, bastante famoso pela cena gay e com diversos pubs em suas transversais.

 

O que fazer em Vieux-Montreal, o centro histórico

 

O charme dessa região histórica de Vieux-Montreal também merece ser contemplado durante o dia. É lá onde estão alguns de seus monumentos, como a belíssima Basílica de Notre-Dame. Ela não tem nada a ver com a de Paris, lembra mais a Sainte-Chapelle, mas é magnífica, independente de qualquer comparação. Belo exemplar da arquitetura gótica na América do Norte, ela tem verdadeiras galerias de artes religiosas expostas em suas paredes e em seu altar. Quando está iluminada, tons de azul invadem toda a nave e deixam o templo ainda mais belo.

 

Basílica de Notre-Dame
Basílica de Notre-Dame (foto: divulgação)

 

Em frente à Catedral, a Place d’Armes é o endereço do primeiro banco do Canadá e também do primeiro arranha-céu da cidade. Esse miolinho é o ponto alto da Velha Montreal, local que guarda em suas esquinas e seus prédios de pedras mais de três séculos de história. História que é contada em detalhes no museu Pointe-à-Callière.

É obrigatório caminhar pelas ruas desse trecho e conferir as portinhas que se revelam galerias de artes, bistrôs, lojinhas de artesanato e cafés. No Cais do Porto Velho, o movimento de ciclistas e patinadores se une à conversa descontraída de quem passa por ali. Os restaurantes dessa ponta se encarregam de privilegiar o local, oferecendo janelões e áreas avarandadas para comer com vista para o Rio São Lourenço.

Do antigo porto saem muitos passeios de barco pela região, que passam pelas ilhas Sainte-Hélène e Notre-Dame. Na primeira, fica a Biosphère, ícone de Montreal. Trata-se de um complexo de museus reunidos sob uma espantosa esfera de aço com 70 metros de altura. Na ilha ao lado, está o autódromo Gilles Villeneuve, sede do Grande Prêmio do Canadá de Fórmula 1. Trata-se, na verdade, de umenorme parque envolvendo a pista. Ali fica o parque de diversões La Ronde e o mítico Cassino de Montreal. Tantas atrações tornaram a Ilha de Notre-Dame um dos lugares mais frequentados por habitantes locais e turistas.

 

Biosphère
Biosphère (foto: divulgação)

 

De volta à cidade e explorando mais as margens do São Lourenço, o Marché Bonsecours toma conta do cenário. Reconhecido como um dos prédios históricos mais belos de todo o país, ele foi inaugurado em 1847 e já sediou o Parlamento. Hoje, abriga o Conselho de Comércio e Arte da província, sendo um excelente local para encontrar produtos made in Quebec, com lojas que vendem peças de design para decoração, joias, móveis, antiguidades e roupas.

A parte antiga é o endereço também do Estádio Olímpico. Ele é um ícone da arquitetura canadense, construído para os Jogos Olímpicos de 1976. Possui um teto retrátil e uma torre inclinada, com nada menos que 175 metros de altura. Depois da Olimpíada, passou a receber shows de rock e partidas importantes de beisebol e futebol canadense (esporte semelhante ao futebol americano). Subir ao ponto mais alto da torre é obrigatório e uma ótima chance de contemplar, mais uma vez, essa bela cidade.

 

Onde se hospedar em Montreal

Manoir Sherbrooke
A poucas quadras da Praça das Artes, possui 26 quartos, alguns com geladeira, fogão e micro-ondas.

Renaissance Montreal Centre-Ville
Próximo ao Place Ville Marie, tem 100 acomodações, algumas com varanda e sala de estar.

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