Toda noite de terça-feira, a missa da Igreja do Rosário dos Pretos celebra Santo Antônio de Categeró, escravo africano que foi traficado para a Itália e lá se dedicou à fé cristã no século 16. Em sua homenagem, oferendas entram na igreja ao som de atabaques, instrumentos que embalam os terreiros de candomblé, enquanto mães de santo se misturam a freiras. Mais do que um culto, parece uma festa. Coisa da qual, aliás, o povo aqui entende bem. Um lugar onde a onipresente e poderosa Igreja Católica incorpora elementos de uma religião afro-brasileira em seus rituais não pode ser um lugar qualquer. Só pode ser Salvador, onde a fusão foi tanta ao longo dos séculos que hoje já não há distinção clara entre o que veio dos europeus, o que veio dos africanos e o que veio dos índios.
Uma cidade que une diferenças
O sincretismo religioso que impera por aqui é uma lição que Salvador dá ao mundo, mostrando que, sim, doutrinas diferentes podem conviver em paz. Afinal, não é porque você reza o terço que não poderá entregar sua oferenda à Iemanjá ou pular suas sete ondinhas no ano novo.
Até porque existem mais semelhanças entre o catolicismo, o candomblé e a umbanda do que sonha a Bíblia. Os orixás, entidades cultuadas nessas duas religiões de origem ou influência africana, têm seus correspondentes dentro da seara de santos católicos. Dessa forma, os escravos podiam continuar cultuando suas divindades disfarçadamente: deusa das águas, Iemanjá foi personificada como Nossa Senhora; Ogum, senhor da guerra, virou São Jorge; Oxalá, que criou a humanidade, nada mais é do que Jesus Cristo. E por aí vai…
No coração do centro histórico de Salvador
É verdade que toda essa mistura pode ser sentida, ouvida e vista em todo e qualquer canto de Salvador, mas é na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos que a fusão ganha mais força. Não apenas pela missa com atabaques às terças-feiras, mas por sua história como um todo.
Ela foi fundada em 1685 e era frequentada por escravos e alforriados – daí o nome –, impedidos de irem às mesmas igrejas que os senhores brancos. Não poderia ficar em lugar melhor, bem no Largo do Pelourinho, coração do centro histórico de Salvador e palco dos castigos públicos impostos aos negros e infratores.
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Em constante revitalização, o bairro agora vive sob policiamento para garantir segurança aos turistas. Aqui eles encontram casas históricas convertidas em lojas, restaurantes, cafés e hotéis. Só é preciso ter jogo de cintura para driblar os vendedores ambulantes. Afinal, eles começam amarrando uma fitinha do Bonfim no pulso dos desavisados para nunca mais parar com a oferta de coisinhas sempre negociáveis. Ali, como em vários outros espaços abertos da cidade, rodas de capoeira ou de batucada ajudam a compor a imagem clássica da Bahia.
Olodum e mais
Patrimônio Histórico pela Unesco, o Pelourinho é testemunha do passado colonial de Salvador, quando a cidade era a sede do governo português no Brasil. As casas coloridas ganharam fama mundial primeiro como cenário do clipe They Don’t Care About Us, de Michael Jackson, e depois como palco do Olodum durante a Copa do Mundo de 2014.
O grupo, aliás, é mais uma entidade de peso a incorporar o legado afro para além do carnaval. Fundado em 1979, hoje é uma ONG com centro cultural ali mesmo no Pelourinho, a Casa do Olodum, com loja de artigos temáticos e auditório.
Às terças-feiras pré-carnaval, dá até para assistir a ensaios do Olodum ao ar livre. Para ver mais das expressões artísticas do estado, o Balé Folclórico da Bahia tem espetáculos todas as noites, menos às terças e aos domingos. Os números representam o samba, a capoeira e o maculelê, em seu teatro no centro histórico.
A Bahia de Jorge Amado
Outra figura da cultura baiana dando o ar da graça no Pelourinho, o escritor Jorge Amado é tema das pesquisas da fundação que leva seu nome e fica em um casarão azul de frente para o largo. Ali há uma exposição com documentos, livros, fotografias e objetos sobre o escritor e sua esposa, Zélia Gattai. Há também café e loja (ingresso: R$ 5). Mas é no bairro do Rio Vermelho que está seu verdadeiro santuário – iremos até lá mais adiante.
Por dentro das igrejas de Salvador
Por enquanto, seguimos o passeio pelas ladeiras de pedra do Pelourinho para chegar à igreja que melhor ostenta o poder católico no Brasil colonial. É a Igreja de São Francisco, um exemplo gritante do barroco brasileiro do século 18, forrada por dentro com 800 quilos de talha dourada. Tem ouro no teto, nas pilastras, nas paredes, nos altares, nos coros, nos púlpitos, em tudo.
Os azulejos portugueses que estampam parte das paredes são pintados com cenas sobre a vida de São Francisco de Assis e se estendem também para o claustro do convento anexo, grafados com impactantes mensagens em latim, como “Rico é aquele que nada cobiça” e “A morte aguarda a todos igualmente”.
Ordem Terceira de São Francisco
A igreja ao lado, a da Ordem Terceira de São Francisco, parece já de cara querer rivalizar com a vizinha dourada, exibindo uma fachada de arenito toda trabalhada no alto-relevo. Apesar de mais simples por dentro, ela abriga o único conjunto de azulejos portugueses representando Lisboa antes do terremoto de 1755.
Atravessando a praça Terreiro de Jesus (onde as baianas vestidas a caráter esperam sorridentes para tirar fotos por um trocadinho), fica a Catedral Basílica de Salvador. Ela é considerada a mãe de todas as igrejas católicas do Brasil, já que deriva da primeira capela construída pelos jesuítas, em 1549, logo na fundação da cidade. Entretanto, para além dos crucifixos e atabaques, há mais uma “religião” que movimenta a vida em Salvador: o carnaval. É bem ao lado da catedral que fica o templo máximo dessa fé foliã.
Casa do Carnaval
Com ingresso a R$ 30, a Casa do Carnaval é uma delícia de visitar mesmo para quem é membro dos Unidos do Sofá. O museu faz jus à alegria e ao valor histórico da maior festa popular do mundo logo na fachada, com esculturas que representam as máscaras típicas da cidade baiana de Maragojipe. E talvez a gente, do Sudeste, se sinta vivendo numa bolha por nunca ter visto alguns dos símbolos carnavalescos tão populares ali expostos.
O acervo multimídia conta com vídeos e audioguia sobre a origem do carnaval, das fanfarras aos blocos. Segue por salas que exibem trajes usados por artistas baianos (lembra dos figurinos infames da Carla Perez?). E mergulha na música de diferentes décadas, homenageando artistas como, por exemplo, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Claudia Leitte, Luís Caldas, bem como os grupos Ilê Aiyê, Olodum e Timbalada. Alguns deles, aliás, dão voz às explicações dos vídeos.
Por fim, os visitantes podem aprender coreografias de carnavais passados, seguindo os passos de dançarinos projetados em um telão. Só dispense a parte de vestir os adereços disponíveis ali, afinal, não é lá muito higiênico. Já a vista do terraço vale muito a pena. Não só pela beleza do mar da Baía de Todos os Santos logo à frente, mas também para entender a geografia de Salvador.
Elevador Lacerda e mais
Desde os tempos coloniais, a então capital se divide em Cidade Alta, esparramada sobre os montes, e Baixa, à beira-mar. É uma distribuição bastante adotada pelos portugueses, que assim construíram também cidades como Lisboa, Porto e Coimbra. Aqui, a ligação entre as duas áreas é feita a pé por ladeiras, dois funiculares (planos inclinados) ou pelo Elevador Lacerda.
Este último, cartão-postal de Salvador, fica a menos de 500 metros da Casa do Carnaval e tem uma vista ainda mais matadora, inclusive no fim da tarde. De 1873, o elevador foi o primeiro do gênero no mundo e custa só 15 centavos para usá-lo.
Não espere, porém, que o percurso seja panorâmico, pois é tudo fechado. Ainda na parte alta, bem em frente ao elevador, está o Palácio Rio Branco, que foi a primeira sede do governo colonial.
O imponente prédio que se vê hoje é do início do século 20, mas seu antecessor recebeu D. João VI logo na chegada da família real em 1808 e, depois, hospedou D. Pedro I e D. Pedro II. O primeiro piso é aberto para visitação pública e há planos para que o palácio se transforme em hotel do grupo português Vila Galé.
Mercado Modelo
Quem desce à Cidade Baixa pelo Elevador Lacerda dá logo de cara com o Mercado Modelo, coração da região portuária. Ímã turístico, é um centro de artesanato que ocupa o antigo prédio da alfândega, de 1861. Por lá há mais de 250 lojas de suvenires, roupas, doces, cachaças e tudo o que há de mais baiano. Ali dentro, restaurantes tradicionais, como o Maria de São Pedro e o Camafeu de Oxóssi, têm como especialidade moquecas e outros preparos de frutos do mar à moda baiana.
O mercado dá de frente para o Forte São Marcelo, isolado dentro do mar, já a 300 metros da costa. Jorge Amado o chamou de “umbigo da Bahia” por conta de seu formato circular, pensado para barrar possíveis invasões. Porém, nem sempre funcionou: no século 17, os holandeses ocuparam o forte. Hoje, só pode mesmo ser visto de fora, já que suas visitações estão suspensas.
Bem perto dali, o Solar do Unhão é ponto de encontro para ver o pôr do sol de todo sábado. É quando acontecem apresentações ao vivo de jazz, aproveitando a vista da baía. Com isso, o casarão do século 16 acaba ganhando uso popular para além de sua função como sede do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM).
Fitas coloridas e santa baiana
A despeito de todas as igrejas forradas em ouro, da importância da catedral-mãe e da beleza da missa com candomblé, reside em outro lugar a maior expressão da fé baiana.
Na Cidade Baixa, a 6 km do Pelourinho, o gradil forrado de fitinhas coloridas não deixa dúvidas: a mais famosa entre as 372 igrejas de Salvador é a dedicada ao Senhor do Bonfim. A basílica-santuário do século 18 homenageia a figura mais cultuada da Bahia, representada no catolicismo pela imagem de Cristo crucificado e incorporado no candomblé por Oxalá, pai de todos os orixás.
Lavagem do Bonfim
Sim, aqui também o sincretismo dá as caras, dando origem a uma das festas mais bonitas da cidade. Todo mês de janeiro, a Lavagem do Bonfim motiva uma procissão de fiéis vestidos de branco a caminharem por 8 km, ao som de cânticos africanos. O cortejo é liderado pelas baianas, que, chegando ao santuário, lavam as escadarias com água de cheiro.
Comemorado há mais de dois séculos na segunda quinta-feira de cada ano, o ritual é a segunda maior manifestação popular da Bahia. Fica atrás apenas do carnaval, e inclui até a participação de blocos afro, como o Filhos de Gandhy. As ruas são cheias de barracas de acarajé, grupos de samba, banhos de ervas, fiéis pagando promessa de joelhos, numa bagunça daquelas que só a Bahia sabe fazer.
Seguindo a tradição
Em qualquer época do ano, porém, você pode pendurar uma fitinha do Bonfim nas grades da igreja. Como todo bom brasileiro, você já sabe que são três nós, um para cada pedido, realizados quando o amuleto se romper. Elas podem ser amarradas também no pulso ou na canela.
Além disso, a tradição manda que sejam presenteadas, nunca compradas, o que não será um problema. Afinal, os ambulantes capricham no estoque de “cortesias”, ali mesmo em frente à igreja ou em qualquer outro canto da cidade. Há 200 anos, quando surgiu como colar de medalhas para se usar no pescoço, a fita era de seda e tinha 47 cm, mesma medida do braço da imagem do Senhor do Bonfim que está no altar da igreja (que, aliás, é uma lindeza por dentro). No candomblé, cada cor de fita simboliza um orixá diferente – Iemanjá, por exemplo, é azul-claro.
Os milagres de Irmã Dulce
Sem ofuscar o brilho do Senhor do Bonfim, outra personagem tem sido adorada entre os católicos baianos. É Irmã Dulce, canonizada em outubro de 2019 como a primeira santa brasileira. Nascida na Salvador de 1914, a freira sempre se dedicou a pobres e doentes. Hoje, há uma série de hospitais e ações educacionais entre os objetivos da entidade fundada por ela, as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).
Os milagres que levaram à sua canonização se referem à cura de pessoas doentes, incluindo um homem cego. A história e os trabalhos da santa são tema de uma exposição em seu memorial, com mais de 800 itens, como o hábito que ela usava, um terço dado pelo papa João Paulo II e a cadeira em que ela dormiu todas a noites, por quase 30 anos, para pagar uma promessa. O memorial fica junto ao Santuário Santa Dulce dos Pobres, onde, além de missas, os devotos podem contemplar o túmulo da santa e levar como lembrança fitinhas do Bonfim grafadas com o nome dela.
Existe um projeto, já em fase de construção, de inaugurar o Caminho da Fé, um circuito ligando o Santuário da Irmã Dulce à Igreja do Bonfim, ao longo de um quilômetro. Demarcada com piso em granito, a rota de peregrinação terá 14 totens informativos que representam a Via Crúcis e contam a história dessas duas figuras religiosas.
Aproveitando as praias
Cada vez mais turistas têm se interessado em atravessar a Baía de Todos os Santos para chegar à Ilha dos Frades, dona da primeira praia nordestina a conquistar o selo internacional Bandeira Azul, para fatores como qualidade da água e preservação ambiental. Há os passeios de escuna que partem do Terminal Turístico Náutico da Bahia e passam rapidinho por esse e outros lugares ao longo do dia (advalturismo.com.br, R$ 85).
Mas também dá para pegar o catamarã que sai de manhã e volta só no fim na tarde (advalturismo.com.br, R$ 90). O trajeto, porém, é longo, dura quase duas horas e tem aquela animação de banda ao vivo que nem sempre combina com a vontade de relaxar (em orçamento mais generoso, considere alugar uma lancha particular).
A Praia de Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe não é imperdível em termos de beleza, ainda que rodeada de Mata Atlântica e banhada por um mar claro e calmo. Não que não seja bonita, mas perde um pouco do charme por conta dos quiosques que enchem a areia com mesas de plástico e guarda-sóis.
Onde comer em Salvador
Mas é ali que fica o motivo maior para visitar a Ilha dos Frades: o Restaurante da Preta. Basta subir a escada de madeira que vem da praia e entrar um pouco na modesta vila de nativos para chegar ao mundo particular de Angeluci Figueiredo ou, como já diz o nome, simplesmente Preta.
O lugar em si diz muita coisa sobre a criatividade da dona da casa. O que hoje parece ser pensado justamente para bombar no Instagram, com plaquinhas bem-humoradas, teto forrado de guarda-chuvas coloridos, barcos de pesca, peças de artesanato e mobiliário rústico, começou na verdade como um apanhado de coisas descartadas que Preta ia encontrando e reaproveitando na decoração de seu primeiro restaurante, aberto na Ilha de Maré. Há dois anos, ela mudou de mala e cuia para a Ilha dos Frades, onde também pretende abrir, em breve, uma pousada.
Menu e reservas
Para almoçar ali, melhor reservar. Afinal, a procura é grande, inclusive nos finais de semana. Nem mesmo gente como Neymar, Ivete Sangalo e Gilberto Gil resistem ao tempero da Preta. Com nomes cheios de graça, o menu tem preço salgado, com alguns pratos beirando os R$ 200 (para dividir em duas pessoas), mas se tem um lugar onde vale a pena gastar para comer em Salvador, certamente é aqui.
As próprias entradas podem compor uma refeição completa, digna dos orixás. Por recomendação da própria Preta, vá de Leva Nóis (rolinhos primavera recheados com siri), Inveja Mata (polvo na chapa), Barão (camarão grelhado), Ilha de Maré (burrata) e Milagre de Jesus (salada de siri). Se ainda tiver espaço, aposte nas moquecas, que podem ser só de camarão ou de peixe, ou acerte com o Na Mira, peixe assado com farofa de banana. Depois, é só curtir a moleza pós-banquete se jogando em uma das redes de balanço debaixo dos gazebos.
Mais opções de restaurantes
Não é preciso, no entanto, ir tão longe para se fartar com comida típica. De volta ao centro histórico, no Largo do Pelourinho, fica o Restaurante do Senac, onde se prova não a melhor comida da cidade, mas certamente a mais variada para quem quiser mergulhar a fundo na culinária baiana, sem gastar muito.
Ao custo de R$ 65 por pessoa, o bufê livre tem 40 pratos típicos, sendo umas 15 opções de moqueca (que, para ser baiana, deve ter dendê!). Tem de bacalhau, mexilhão, polvo, ostra, arraia e até de ovos. Também não faltam vatapá, acarajé, dobradinha, rabada, quibebe e feijoada baiana, feita com feijão carioquinha.
O restaurante faz parte do Museu da Gastronomia Baiana, onde ainda se podem ver restos da muralha colonial que protegia Salvador. O acervo explora mais um aspecto das misturas locais, dessa vez na forma de comida, que da África herda a pimenta, o óleo de coco e o azeite de dendê e, dos índios brasileiros, a mandioca e o milho.
A comida baiana e o candomblé
É um bom lugar para entender também a ligação da comida baiana com o candomblé. Muitos dos pratos típicos são servidos como oferendas aos orixás, a fim de invocar o axé de cada entidade. E axé, veja só, quer dizer “força sagrada”. O acarajé, por exemplo, é a comida de Iansã, senhora dos ventos e dos raios (equivalente à Santa Bárbara católica).
Também a gastronomia mais refinada e moderna vem ganhando espaço dentro da cena de Salvador, ali mesmo no centro histórico. Buscando uma apresentação mais sofisticada, o Cuco Bistrô mantém a baianidade em alta tanto na decoração como no menu, com toques do Mediterrâneo. Assim, queijo coalho e caldinho de sururu dividem espaço com carpaccio de carne e broa de bacalhau.
De prato principal, carne seca com manteiga de garrafa, bobós e moquecas brilham ao lado da codorna, do carré de cordeiro e do risoto com camarão. As paredes forradas de prateleiras exibem rótulos de cachaça do Brasil inteiro, à inteira disposição para experimentar. Já o Pysco conquistaria pontos só pela vista, mas é ainda melhor que a comida de lá seja tão bem-feita, como prova o polvo à lagareiro com batatas ao murro.
Praia com graça
É verdade que Salvador não guarda as melhores praias da Bahia, mas obviamente há boas opções com águas claras, quentes e calminhas em seus 50 km de litoral (a maior orla urbana do Brasil, dizem). O trecho entre os bairros Barra e Ondina dispensa apresentações.
Ali, além do circuito de trios elétricos no carnaval, concentram-se algumas das praias mais movimentadas, como a do Porto da Barra, onde desembarcaram os portugueses para dar início efetivo à nossa colonização.
A pequena praia fica aos pés do Forte São Diogo, considerado o marco zero do Brasil, já que foi a primeira construção a ganhar forma, em 1536. Seu interior agora dá lugar ao Espaço Carybé das Artes (ingresso: R$ 20). Lá há projeções de obras do artista plástico Hector Julio Páride Bernabó, argentino que, de tanto amor por essa terra, escolheu virar baiano. As imagens projetadas tomam as paredes não só de dentro da fortaleza como também a fachada, diariamente a partir das 18h.
Essa é a melhor hora para se estar ali, ainda mais no Bistrô Mirante, bar aberto há pouco mais de um ano junto ao forte. Com ambiente lounge e ao ar livre, tem tudo o que é preciso para compor a foto perfeita de Instagram. Ou seja, isso inclui sofás de palete, banco-balanço, letreiro de néon, gim-tônica, finger food, vista para o mar e, claro, pôr do sol.
Forte de Santa Maria
Na outra ponta da praia, o Forte de Santa Maria é mais um patrimônio histórico nacional que, assim com o vizinho, também se aposentou da função militar para abrigar um centro cultural. O acesso a ele se dá com o mesmo ingresso do Forte São Diogo e o acervo cobre o trabalho de fotógrafos baianos. O nome é em homenagem ao francês Pierre Verger, que se dedicou a retratar as relações entre África e Bahia.
Também sua fachada tem projeções noturnas. A partir dali, caminhe pela orla toda renovada, cheia de hotéis e restaurantes, até chegar ao Farol da Barra, outro cartão-postal da cidade. Hoje ele abriga o Museu Náutico da Bahia.
O bairro mais boêmio de Salvador
Depois, vem uma boa concentração de hotéis de rede, como Ibis, Mercure, Pestana, Vila Galé e Novotel, especialmente no Rio Vermelho, o bairro mais boêmio de Salvador. De dia, dá para curtir a Praia do Buracão ou então visitar a Casa do Rio Vermelho, onde viveu o casal de escritores Jorge Amado e Zélia Gattai por 40 anos.
Está tudo lá, preservado: móveis, obras de arte, documentos, itens pessoais, máquinas de escrever. “Se for de paz, pode entrar” é o mote da gostosa casa-museu cheia de jardins, que revela tudinho sobre os autores, desde as vocações comunistas até o gosto por viajar o mundo, passando pela relação com o candomblé e a influência da cozinha baiana em personagens como Gabriela e Dona Flor.
De noite, o Rio Vermelho ferve com bares e restaurantes ao redor das praças – onde reinam também as barracas de acarajé das baianas. Nos largos da Mariquita e de Santana, ficam Dinha, Regina e Cira vendendo seus bolinhos fritos de feijão fradinho com vatapá e camarão seco.
Mais opções
Para mais opções de jantar, vale conhecer a Vila Caramuru, o antigo Mercado de Peixe que hoje é um complexo com vários restaurantes em forma de tendas, pertinho do mar. O nome é porque foi bem nesse ponto que naufragou Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Ele foi o português que serviu de elo entre os tupinambás e os colonizadores. Ali, o quiosque Caminho de Casa tem comida baiana no cardápio, desde petiscos como bolinho de feijoada e porções mais encorpadas como o fumeiro (lombo defumado) até moqueca, sarapatel e rabada.
Depois do Rio Vermelho, começam as praias mais tranquilas de Salvador, perto do aeroporto. A região da Costa de Itapuã é bom lugar para combinar, em uma mesma estada, a vida fervilhante de Salvador com o cenário tranquilo típico do litoral baiano.
Onde se hospedar por lá
Há hospedagens que flertam com o estilo resort, como é o caso do Grand Hotel Stella Maris e do Catussaba, a 25 km do centro. Entre os atrativos naturais, a Lagoa do Abaeté e o Parque das Dunas atraem aqueles que querem fazer trilhas em meio a paisagens diferentes das já vistas nas praias.
Durante os anos 1950, Itapuã ganhou fama nas músicas de Dorival Caymmi. Ele passava longas temporadas de veraneio por aqui, então uma vila de pescadores. E conviveu bastante com outro poeta ilustre, Vinicius de Moraes, que, nos anos 1970, deixou o Rio de Janeiro para morar com a esposa baiana, a atriz Gessy Gesse.
Ao inaugurar sua casa em frente ao farol, Vinícius chamou o bairro de Principado Livre e Autônomo de Itapuã. Até hoje dá para visitar a residência, agora na forma de museu-memorial. A Casa di Vina, como é conhecida, preserva a arquitetura original e expõe lembranças e documentos sobre a história do casal (ingresso: R$ 5). Por fim, o local ainda tem um restaurante que une cozinha mediterrânea à baiana, com mesas no jardim onde, quem sabe, Vinicius concluiu que nem só Ipanema produz as coisas mais lindas e cheias de graça.
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