Como todo bom brasileiro, eu já tinha ouvido falar bastante do vilarejo onde a seleção alemã de futebol se hospedou na Bahia, durante a Copa de 2014. E como me esquecer desse time depois do fatídico 7 a 1, quando perdemos a segunda chance de vencer um mundial em casa? Só não imaginava que, três anos depois, lá estaria eu viajando rumo à vila de Santo André, parte do município de Santa Cruz Cabrália, sul do estado.

Portanto, confesso que tive uma mistura contrastante de sentimentos quando pus os pés dentro do hotel Campo Bahia. Lembrava do Mineiraço ao mesmo tempo que me deparava com beleza e sofisticação. Aqui, afinal, foi o centro de treinamento especialmente construído para receber a comitiva alemã na Costa do Descobrimento – rota entre Belmonte e Caraíva, que passa, ainda, por Arraial D’Ajuda e Trancoso.

 

Hotel
Hotel Campo Bahia (foto: shutterstock)

 

Onde se hospedar na Bahia? 

Campo Bahia Hotel

Com 61 suítes e serviço de mordomo, o hotel tem um visual sustentável e moderno por conta da madeira de reflorestamento e dos quadros nacionais e alemães espalhados pelo lugar.

Pousada Corsario Santo André

Reconhecido pelo restaurante El Floredita, a pousada detém algumas vistas privilegiadas pois fica próxima ao rio e os quartos em sua maioria tem varanda ou janela viradas para tal, assim como um jardim amplo e um bar.

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Do aeroporto de Porto Seguro são 27 quilômetros até Santo André – um transfer do hotel, com travessia de balsa pelo Rio João de Tiba, faz o trajeto. Ao volante, Pedro, nosso motorista capixaba, conta que mora há dois anos por estas bandas e daqui não sai mais. Dá para entender: a região é tranquila, sem badalação nem grandes estruturas turísticas. Assim como Pedro, também famosos e estrangeiros chegam em buscam de sossego. E é sossego mesmo: depois da balsa, a entrada para a vila de Santo André fica em uma bifurcação e muitos desavisados passam direto, seguindo pela pista de asfalto, sem se dar conta do caminho de terra que leva a esse tranquilo refúgio baiano.

 

Como é se hospedar no hotel Campo Bahia

 

Inaugurado em 2014, o hotel Campo Bahia fica em uma extensa faixa de areia banhada por mar calmo. São 14 villas de dois andares, totalizando 61 suítes charmosas e confortáveis, com serviço de mordomo. Em cada villa, as suítes dão para uma sala de uso comum, como se fosse uma casa. Rodeadas por varandas e coqueirais, todas contam com cama king size, roupa de cama e banho da marca Trussardi, produtos L’Occitane e Wi-Fi gratuito. Na Villa Ocara, ficam as maiores acomodações, com 350 m2 cada uma.

Quarto do hotel em Campo Bahia
Quarto do Campo Bahia (foto: divulgação)

Desde o início do projeto, houve grande ênfase na construção sustentável: toda a madeira é certificada e proveniente da Amazônia paraense, onde árvores foram replantadas para compensar o desmatamento. A arquitetura e o mobiliário utilizam produtos locais feitos com matéria-prima natural. Obras de artistas brasileiros e alemães completam o visual.

Em meio a tudo isso, atenção à decoração temática repleta de referências ao futebol alemão! Por exemplo: ao saborear um drinque do Champions Bar, ao lado da piscina, vale observar que o balcão é rodeado por enormes telas de TV, em que fotos da seleção alemã de diferentes épocas vão passando lentamente. O spa, usado como área de fisioterapia pela equipe durante sua estadia, hoje tem menu de tratamentos L’Occitane, disponíveis também para não hóspedes, como banhos, esfoliações, máscaras, massagens corporais e tratamentos faciais – todos começam com um agradável escalda-pés. Tem ainda aulas de ioga ou de dança, além de academia de frente para o mar. Para os pequenos, o hotel conta com kids club.

 

Champions Bar
Champions Bar (foto: divulgação)

 

Em frente, a Praia de Santo André fica praticamente vazia. Aqui, os hóspedes contam com espreguiçadeiras e guarda-sóis. E sabia que essa belezura tem até apelido? Não à toa, ficou conhecida como “a praia do 7 a 1”… Para tomar um banho de água doce, em uma caminhada de dez minutos pela areia chega-se ao Rio João de Tiba.

E por mais que a gente queira curtir uma bela preguiça nesse paraíso, vale lembrar que também há atividades e escapadinhas. Pagos à parte, é só escolher entre os passeios na luxuosa escuna Dreamcatcher, visitas às praias de Guaiú, Belmonte e Canavieiras, passeios de canoa, caiaque e stand up paddle, mergulho em corais, trilhas por manguezais e bicicleta.

Prato Fettucine
Prato Fettucine (foto: divulgação)

 

Na hora da fome, o restaurante do hotel é o Caju, comandado pelo jovem chef Caio Silva, que reinventou o cardápio sem deixar de lado o uso de ingredientes regionais. O mix é primoroso – pode-se pedir tanto o carré de cordeiro com mousseline de batata trufada e molho rôti (R$ 105) como um fettuccine com carne de sol, ovo caipira e queijo coalho (R$ 63). De sobremesa, são boas ideias a torta semifreddo de limão (R$ 27) ou a brasileiríssima tapioca de abacaxi com sorvete de coco (R$ 23). Tem ainda espaço para churrasco pé na areia, com música ao vivo à noite. Nem alemão resiste.

O que fazer nos arredores do Campo Bahia

 

Restaurante Maria
Restaurante Maria (foto: divulgação)

Saindo de Santo André, seguimos para o norte com destino à Praia do Guaiú, a 13 quilômetros de distância. Ali, o restaurante da Dona Maria Nilza salta aos olhos – uma barraca rústica e charmosa, cheia de pequenas delicadezas, como as toalhinhas de renda, as almofadas floridas e as mesas identificadas com nomes de pássaros. A proprietária se apresenta com uma simpatia irresistível, cumprimentando e conversando com cada cliente. Ela espalha folhas de citronela frescas na mesa antes de os pratos serem servidos.

Escolhemos o tradicional arroz de polvo e também o arroz de siri. As porções são para duas pessoas, bem fartas. Pedir antes de a fome apertar é uma boa ideia, pois a comida é feita na hora, no fogão a lenha – vale lembrar, não há eletricidade. Enquanto aguarda, peça uma bebida e curta a praia rodeada por manguezais habitados pelos guaiamuns, caranguejos azulados em risco de extinção. Ali também deságua o Rio Santo Antônio, que forma uma tranquila piscina de água doce, perfeita para banho.

Após o almoço, enquanto nos despedimos, Maria Nilza traz uma caixa com mensagens da sorte, como se fosse um realejo. “Onde está o passarinho para pegar os papéis?”, pergunto. E ela, bem-humorada, responde: “Fugiu, aquele baiano preguiçoso!” Então, cada um tem que tirar sua própria sorte. A minha me aconselha a perseguir os sonhos e me concentrar no dia de hoje.

Vale a pena reservar um tempo para conhecer Santa Cruz Cabrália, do outro lado do rio. Pode-se dizer que a cidade foi criada quando Pedro Álvares Cabral aportou na Praia da Coroa Vermelha, onde também foi rezada a primeira missa em terras brasileiras. Décadas depois, após a vila ser destruída pelos índios aimorés, a população foi transferida para um platô na foz do Rio João de Tiba. Hoje, é dali que partem inúmeros passeios em escunas e chalanas.

Na parte alta da cidade, o Centro Histórico reúne, como patrimônio tombado, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição (construída no século 17), a Casa da Câmara e Cadeia (uma das primeiras penitenciárias do Brasil), as ruínas de um colégio jesuíta do século 16 e o primeiro cemitério local. É uma boa contratar um dos guias turísticos na entrada do complexo, que enriquecem a visita com muita prosa e informação.

 

Centro de Santa Cruz Cabrália
Centro de Santa Cruz Cabrália (foto: shutterstock)

 

Mas nem só de portugueses se faz a história do descobrimento. Para conhecer mais sobre a vida e a cultura da população indígena da região, visitamos a aldeia dos índios pataxó de Coroa Vermelha, que tem ocas em formato original.

Makiame, um dos quatro líderes da tribo, conta a trajetória de seu povo e explica os significados das diferentes pinturas corporais. “Os desenhos representam desde a hierarquia até o estado civil de cada um”, diz. A conversa é arrematada com dança típica e degustação de peixe assado na folha de palmeira e de beiju de puba, um tipo de tapioca doce, servida com chá. Como suvenir, vale comprar direto com os índios peças de artesanato, ervas, produtos medicinais e utilitários de madeira, tudo feito por eles mesmos.

A noite é a melhor hora para explorar Santo André, vilarejo de pescadores com não mais que mil habitantes. Na Avenida Beira Rio, casinhas e restaurantes se enfileiram por trás de cercas de eucalipto, muito comuns nas construções daqui. Vale uma paradinha na Praça do Peixe, onde a Feira Criativa reúne artesãos locais de quinta a sábado, entre 17h e 19h30.

 

Pratos do restaurante
Pratos do restaurante (foto: divulgação)

O restaurante El Floredita, da Pousada Corsário, é uma opção agradável para jantar com a brisa noturna. Pedidas certeiras são o polvo à vinagrete com feijão de corda (R$ 42) e a cocada de forno ao limão-siciliano (R$ 7).

Assim, de estômago feliz, voltei ao hotel e me despedi da Bahia relaxando em um sofá no bar da piscina, admirando as luzes da noite e ouvindo o som do mar. No céu estrelado, a lua quase cheia arrematava o cenário. Depois disso tudo, quem liga para o 7 a 1?

 

 

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